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Foto do escritorRoberto Andersen

Estamos destruindo as competências de nossas crianças

Por que a nossa educação, em vez de preservar a inteligência e as competências da criança, acaba destruindo o que ela traz, dentro dela, e padroniza seu cérebro, para ser mais um papagaio numa sociedade que se chama de ser humano?

Pois é, amigos.

Não é por falta de ideias, já que sempre surge um pensador, um filósofo ou um educador, que percebe, desenvolve e aplica metodologias fantásticas, que mudam totalmente essa infeliz realidade.

Foi assim que, estudando sobre a Grécia antiga podemos entender as formas totalmente opostas nas metodologias educacionais em Athenas e Esparta, assim como os seus resultados.

Em Esparta, onde havia uma educação coletiva, impessoal, realizada pelo Estado, sem participação da família e sem qualquer vínculo afetivo, ela criava guerreiros.

Embora muitas inteligências brilhantes surgissem, a massa era apenas obediente, seguidora fiel de todas as ordens dos seus chefes.

Afinal, essa qualidade é a necessária para que as estratégias e táticas de guerra, elaboradas pelos pensantes, resultem na vitória em campo de batalha.

Já em Athenas, num processo de educação individualizada, cada criança era analisada pelo seu preceptor, para que fossem identificadas as suas potencialidades e competência e, a partir daí, era planejado e executado todo o seu processo de aprendizagem.

Em Athenas, então, se preservava toda a inteligência nascida com a criança, parte dela vinda do mundo inteligível, segundo Platão, ou da cultura dos antepassados, segundo Aristóteles.

Essa preservação da “inteligência nata” permitia que suas competências aflorassem e a criança pudesse, futuramente, vir a ser alguém que, certamente, faria a diferença no mundo.

Em Esparta, entretanto, o processo coletivo impessoal padronizava as mentes em uma espécie de “lavagem cerebral”.

Essa padronização alcançava pensamentos, atitudes e comportamentos, sempre estimulada por meio de estratégias de criação de entusiasmos, muitas vezes contrariando a dimensão consciente de alguns dos indivíduos.

Estava criada a ideia de “consciência coletiva”, estudada mais tarde por Émile Durkheim, em seus estudos sociológicos.

Então, a depender do nosso objetivo em relação à sociedade que desejamos formar, podemos nos basear, ou em Esparta, ou em Athenas.

Se o objetivo é o de criar mentes pensantes, então vamos para Athenas e, assim sendo, por que não analisar, para início de nossas reflexões, o “Olhar Pikler-Loczy”?

Eu nem diria apenas analisar, mas sim, colocá-lo em prática imediatamente, vamos ver por quê?

O vínculo segundo o “Olhar Pikler-Loczy”

A necessidade de se desenvolver crianças, em orfanatos, durante a guerra, fez com que Emmi Pikler desenvolvesse a sua metodologia afetiva, que foi chamada de “Olhar Pikler-Loczy”, cujas características mais importantes têm sido absorvidas por diversos educadores em suas próprias metodologias de desenvolvimento infantil.

A influência desse seu “Olhar” já alcançou, portanto, educadores de todo o mundo, embora, infelizmente, em escolas pontuais, com poucos alunos, quando temos a oportunidade de encontrar profissionais de educação dedicados a incorporar o processo educacional de seus alunos em seu próprio propósito de vida.

Nas demais são mantidas as metodologias tradicionais, impessoais, herdadas das escolas públicas de Esparta, da Grécia Antiga, quando o coletivo supera o individual e o aluno, passivo, segue as ordens determinadas pelo docente, sem possibilidade de qualquer tipo de questionamento ou reflexão individual.

A criança é considerada como, já tendo nascido como sujeito ativo, com suas próprias potencialidades e competências, e com condições de aprender pela observação do outro, do meio ambiente e do mundo, ou seja, pelo processo de “alteridade formando identidade”.

O professor/cuidador deve estabelecer o vínculo afetivo por meio, inicialmente, de seu olhar ativo, com afetividade, buscando captar as reações da criança, os momentos em que ela demonstra sensações prazerosas, ou sensações de desagrado.

Assim o professor/cuidador deve procurar transformar em sensações agradáveis, todas as suas ações com a criança, como dar a alimentação, dar banho, trocar fraldas ou trocar roupas.

Essa presença afetiva e respeitosa do professor/cuidador é o que dá segurança e encoraja o bebê (ou a criança) a iniciar a exploração do ambiente.

Sem essa segurança emocional o bebê (ou a criança) estará em processo defensivo, desenvolvendo uma sensação de desconfiança em relação ao outro, ao meio e ao mundo.

Estabelecido o vínculo, o professor/cuidador deve manter uma postura de “não intervenção”, mas demonstrando participação afetiva (troca de olhares e apoio verbal), compartilhando os momentos de alegria e as atividades lúdicas, como se ambos estivesse no mesmo processo de descoberta.

Essa relação permite o desenvolvimento, na criança, da consciência de si e do outro, reforçando o seu auto entendimento desde a mais tenra idade.

O professor/cuidador deve estar atento os momentos em que a criança demonstra o prazer de estar só, consigo mesma, e manter a postura de observação afetiva, sem interferência.

Mas deve fazer isso com atenção total aos seus gestos, olhares e outras demonstrações de suas potencialidades e competências latentes e em processo de descoberta.

O olhar do professor/cuidador deve ser o mesmo olhar do psicanalista para o seu paciente ou, melhor ainda, o olhar do psicomotricista, já que, nesse caso, além da observação da psiquê, necessita-se da observação, com interferência afetiva, nos movimentos corporais, já que o contato físico também tem importância fundamental no estabelecimento do vínculo.

A teoria do vínculo pressupõe que a criança esteja equilibrada orgânico-psiquicamente, o que significa que toda a atenção também deve ser dada ao seu processo de alimentação, eliminação de parasitas, complementação de níveis de vitaminas e todos os demais cuidados do processo digestório, como por exemplo, o tratamento de comorbidades como a disbiose intestinal, por exemplo.

Essa atenção é primordial, principalmente devido a que os principais neurotransmissores responsáveis pelo seu bem estar, sejam liberados pelo cérebro entérico, o cérebro do intestino.

Assim é com 90% de toda a serotonina, 50% de toda a dopamina e outros 30 diferentes hormônios neurotransmissores.


Pois é, a amigos!

Esse é mais um tema para a reflexão de todos nós.


Mas acredito que, com isso, daremos passos largos rumo a uma nova realidade educacional em nosso país.

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