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Foto do escritorRoberto Andersen

Reflexões sobre um menino na escola


De repente surge, na escola, um menino!

Todos olham espantados!

Vejam aquilo: um menino!

Como será que ele nos ouve? Como será que ele nos enxerga? Como será que ele nos compreende? O que será que ele sabe da vida? Quais são os conhecimentos que ele tem? Será que ele fala? Como ele se comunica? Como será que nós poderemos entende-lo? O que será que ele pode aprender conosco? O que será que poderemos aprender com ele?

Pois é! Parece estranho o que eu disse?

Pode parecer estranho, mas esse procedimento deveria ser o certo!

Mas, pena que isso não aconteça em nossas escolas.

Isso talvez acontecesse em Antares, ou em algum outro sistema estelar, se um menino do nosso planeta tivesse sido abduzido por uma nave espacial alienígena e levado para lá.

Aí sim, esse menino seria analisado em suas habilidades e conhecimentos para que, a partir daí ele começasse a ser instruído com os conhecimentos que, aos poucos, ele fosse sendo capaz de entender.

Mas estamos no planeta Terra!

Aqui em nossas escolas os meninos ao entrarem em uma escola são considerados todos iguais, com as mesmas habilidades, com a mesma capacidade de aprender, com os mesmos conhecimentos básicos, mesmo que esse menino seja autista, seja disléxico, seja discalcúlico, seja microcéfalo, ou tenha lá a característica intelectual ou cognitiva que tiver.

Suas diferenças serão ignoradas e ele vai ter que aprender da mesma forma que todos os outros, ou melhor, ele vai receber as mesmas instruções que todos os outros, mesmo que não esteja entendendo uma só palavra daquilo que está sendo mostrado a ele.

Mas não faz mal. A escola, ao final do ano, vai colocar em seu histórico escolar:

Notas obtidas: 0,0 (zero)

Aprovado por ser aluno especial.

E pronto!

Nossa obrigação está cumprida, lavamos as mãos, e vamos para casa satisfeitos com o dever cumprido.

Mas, quanto ao aluno?

Ah, bom! Faltou pensar no tal menino.

Esse, que já vem sofrendo uma violência simbólica desde que nasceu, vai perder tudo o que restava da sua autoestima, vai se considerar inferior a todo o resto da humanidade, nunca mais vai conseguir aprender coisa alguma, vai desistir da escola e ficará eternamente na dependência de alguém para sobreviver.

Então nossa escola é assim?

Sim! Infelizmente é exatamente assim que pensam muitos professores, coordenadores e dirigentes escolares por esse nosso mundo...

Não bastou Comenius, em sua Didática Magna, escrita e publicada ainda no século XVII, dizer bem claro que:

“Age idiotamente aquele que pretende ensinar aos alunos não quanto eles podem aprender, mas quanto ele próprio deseja”

Então, vamos refletir um pouco:

Antes de decidirmos o que devemos fazer com algum menino na nossa sala de aula, vamos tentar entender quem é ele, como ele nos entende, como ele lê, como ele ouve, como ele processa as informações, como ele raciocina, quais os seus conhecimentos básicos, quais as suas habilidades e tudo o mais, para, aí sim, começarmos a trabalhar com ele.

Partir do princípio que todos são iguais seria muito prático para nossa atividade docente, mas, na realidade, poderemos estar cometendo um verdadeiro crime de abandono intelectual!

E o mais interessante é que, quando estávamos estudando os teóricos da educação, todos diziam que a educação, a aula, os conteúdos, as tarefas e as avaliações devem tomar como centro o aluno!

Só esqueceram de nos avisar, com mais clareza, que esse “o aluno” não é uma padronização de cérebros com o mesmo conhecimento e as mesmas habilidades, mas que cada aluno tem as suas características especiais, e que assim, cada um deverá receber uma atenção de acordo com as suas características específicas.

Então, seguir um cronograma educacional padronizado para uma série escolar só funciona para os alunos, daquela sala de aula, que estiverem no mesmo nível cognitivo e intelectual.

Os demais precisam que esse conteúdo esteja adaptado à sua realidade de entendimento, raciocínio e elaboração.

Assim sendo, ao dar uma aula para os alunos de sua sala de aula, esteja seguro de que suas palavras e seu ensinamento está sendo entendido por todos, incluindo o autista, o disléxico, o discalcúlico, o microcéfalo e todos os demais.

Como dar uma aula assim?

Experimente a aula por dinâmica grupal, que serve tanto para uma sala com todos os alunos no mesmo nível, como para alunos em diferentes situações de aprendizagem.

Assista o vídeo sobre o assunto e experimente. Se quiser mais detalhes, escreva para nós. Essa metodologia foi baseada nos Grupos Operativos, de Pichon Riviere.

Como passar tarefas e avaliações em sala com alunos especiais incluídos? As tarefas têm a mesma capa, as mesmas figuras, os mesmos desenhos, mas os conteúdos terão que estar exatamente dentro da capacidade de entendimento e elaboração de cada um dos alunos com dificuldades de aprendizagem.

Se não for assim, de que vai adiantar passar uma tarefa para um aluno que, ao tentar lê-la, nada entende do que está ali escrito?

Mas se o conteúdo estiver adaptado à sua compreensão, embora com o mesmo formato, os alunos especiais não se sentirão diferentes.

Se eles perceberem que as tarefas ou avaliações são diferentes, a resposta é bem simples:

Todas são diferentes, para evitar que um copie a do outro! Só isso!

E as tarefas para casa?

Infelizmente os pais de grande parte dos alunos especiais não aceitam a deficiência do próprio filho, e assim só atrapalham o seu desenvolvimento.

Por isso, o professor só deve passar para casa, as tarefas que ele tem certeza absoluta de que o aluno especial saberá resolver sozinho!

De preferência esse aluno já deve ter resolvido tarefa semelhante na sala e, assim, a tarefa para

casa servirá para elevar a sua autoestima, já que os pais ficarão espantados positivamente, por ele resolver sozinho, além de elevar a autoestima dos próprios pais, que assim não atrapalharão o desenvolvimento de seu filho.

No mais, o que precisamos ter bem claro em nossa mente, todas as vezes em que temos um aluno de inclusão, é que o ponto principal de todo o processo é elevar, e manter elevada, a sua autoestima, todo o tempo.

Fazendo assim teremos certeza de que o cérebro desse menino estará trabalhando a favor do seu desenvolvimento, reduzindo as suas deficiências e aumentando a sua capacidade cognitiva e intelectual.

Mas para que isso dê certo, é melhor que coloquemos um quadro bem grande na sala dos professores, nas secretarias de educação, nos conselhos municipais e estaduais de educação e no MEC, com a frase que Comenius criou, em sua Didática Magna, do século XVII, e que repetimos aqui:

“Age idiotamente aquele que pretende ensinar aos alunos não quanto eles podem aprender, mas quanto ele próprio deseja”


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